quinta-feira, 16 de outubro de 2008

O Marxismo e a Crise Econômica



Os indicadores mais recentes da economia norte-americana refletem o agravamento de problemas que desde há algum tempo preocupam economistas e políticos por todo o mundo.

Para aqueles que decretaram a morte do marxismo, a entrada da economia norte-americana na fase de recessão viria confirmar a validade das previsões de Marx quanto ao carácter cíclico das crises no sistema capitalista. É verdade que se acumularam experiências para modificar o ciclo e retardar ou diminuir o efeito das crises económicas, mas a irresponsabilidade da actual administração com a sua política guerreirista, financiada com um dólar cada vez mais enfraquecido e sem apoio, tem vindo a criar uma situação insustentável no futuro.

Insistiu-se, e com razão, que a crise por si só não significará o fim do capitalismo e que a economia norte-americana (e/com $ público) tem a capacidade de ultrapassá-la. a luta dos povos, incluído naturalmente o norte-americano, poderá acabar com o sistema de dominação imperialista.

Entretanto, uma crise de grandes proporções como esta que parece desenhar-se traria mudanças inevitáveis na política tanto interna como externa dos Estados Unidos e influiria consideravelmente nos seus aliados imperialistas. Recordemos a crise de 1929, os seus efeitos devastadores à escala mundial, e o surgimento na política dos Estados Unidos de uma figura como Franklin Roosevelt e seu New Deal a fim de enfrentar os agudos problemas sociais agravados por aquela crise.

Nessa altura, as pretensões hegemónicas e a política que sustentam os setores mais reacionários dos Estados Unidos sofreriam um golpe duro e seriam criadas condições para a sobrevivência e desenvolvimento dos processos de mudanças em andamento na nossa região.

Não se trata de modo algum de desejar a crise como remédio para todos os males actuais pelos quais atravessa humanidade, porque estamos conscientes dos efeitos negativos que ela teria para economia internacional, mas sim de nos prepararmos e aproveitar as possibilidades que seriam abertas com o enfraquecimento do poder hegemónico a fim de avançar na reestruturação da actual ordem financeiro internacional baseada no domínio do dólar, assegurar a multipolaridade – o equilíbrio do mundo defendido por Marti –, e consolidar os processos de integração na América Latina e no Caribe.

Há mais de uma década a revista The New Yorker publicou um artigo com o título "O regresso de Carlos Marx", o qual sublinhava a vigência do seu pensamento na explicação dos fenómenos da economia capitalista. À par das suspeitas de crise económica está à vista a fractura das bases éticas, políticas e jurídicas das sociedades mais desenvolvidas do Ocidente, e em especial a norte-americana actual, a qual constitui, como se sabe, o poder hegemónico do capitalismo mundial.

Para os revolucionários, a via a seguir passa por situar a justiça como categoria principal da cultura pois não há sistema social que possa prevalecer sem um fundamento cultural. Não é possível conceber a escravidão em Roma sem direito romano e não pode haver socialismo se não formos capazes de encontrar os vínculos que unem a ética, o direito e a política prática na sua integridade cultural.

4 comentários:

Anônimo disse...

Marx foi sábio em perceber o caráter cíclico do capitalismo mas, como você disse, não previu que seriam criados mecanismos para curá-lo de possíveis enfermidades.

Sou tão cético quanto Chomsky. Para ele, infelizmente o modelo de capitalismo não irá mudar por conta desta crise.

Heitor Carrer disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Pedro Barbosa disse...

Muito bom o texto. Traça um perfil coerente da atual situação dessa superpotência que é os Estados Unidos.
Não conheço muito sobre as teorias marxistas, e isto é uma falha minha, mas é sempre bom adquirir mais conhecimento.
A crise nos EUA vai ter seu desfecho na semana com a eleição pra presidente. Resta aguardar.

Anônimo disse...

ler todo o blog, muito bom