Sabem aquela de que não se pode enganar todos o tempo todo? Pois é, junto com a bolsa, a máscara da America está caindo. Agora, para salvar seu sistema financeiro, injetam 700 bilhões de grana do povo em empresa de barão. O socialismo, aquela antiga doutrina do capeta, assim se chamava por socializar tudo. Piscinas quentes e fossas sépticas, estação espacial e lata de sardinha mofada, lucros e prejuízos. Por isso, por dividir o pão e o peixe, era taxada de coisa da satã. Enquanto isso, juntar, empilhar, cercar e colocar segurança armado na porta da caixa forte e cobrar juros das migalhas emprestadas, não. Isso era santo. Assim, pregava o abençoado capitalismo. Mas agora que o castelo de cartões de crédito ruiu, vão socializar o terremoto. O lucro era monopólio meu, o prejuízo eu divido com quem ainda nem nasceu.
Meus caros amigos, essa tal crise é de valores. Mas não dos que se aplica em bolsa. Eu até entendo a luta, o anseio natural de ganhar uma bolada. Todos estamos nessa luta em menor e maior grau. Um milhão da estabilidade, firma a mão, compra tudo que Casas Bahia vende e paga faculdade dos pequenos. Agora, depois do milhão, correr atrás do bilhão, do trilhão, do quacquilhão, não. Isso é caveira. E caveira leva faca. Eu ando sem muito na carteira. Mas ando sem cartão. O Cazuza cantava que o cartão de crédito era uma navalha, tem gente que desfila por aí que chama cartão de Deus. Na revista Caras, onde quem tem tv de tela fina é fino, todos seguem esse culto. Todos sorriem, todos tem planos de viagens, de negócios, de casamentos, divórcios e de abortos. Com crédito tudo é graça. Com crédito você é cego que usa óculos Prada. Ninguém pede por luz na praia de sol. Ninguém reza por milagres quando está subindo. Agora que a turbina de papel explodiu e o piloto caolho tateia os comandos, talvez, comos os cegos do Saramago, nos demos a mãos e procuremos por um pouso melhor.